Para percorrer a trilha que leva ao acampamento-base do Everest no Nepal e ver a montanha de 8.848 metros pessoalmente, o turista precisa se esforçar.
Vai enfrentar caminhadas na cordilheira do Himalaia com temperatura negativa e dormir em alojamentos sem aquecedor no quarto ou chuveiro quente no banheiro. São desconfortos que viram detalhes minúsculos quando as maiores montanhas do planeta aparecem no horizonte.
Além do Everest, gigantes famosos como Nuptse, Lhotse, Ama Dablam e Cho Oyu estão ao alcance da visão.
O viajante pode ter iniciado a trilha em Lukla, aonde chega de avião, ou pode ter feito um trecho mais longo por terra. Não importa onde começaram, ambos passam pelo portão do Parque Nacional de Sagarmatha (nome nepalês do Everest), pagando cerca de US$ 45 para entrar.
A partir dali, serão mais ou menos 10 ou 15 dias de trekking, conforme o ritmo do visitante. A aventura começa quando aparece a emblemática Hillary Bridge, que cruza o rio Dudh Koshi. Ela é a mais longa e alta de uma série de pontes de metal suspensas instaladas pelo trajeto —daquelas que são adornadas por bandeirolas coloridas impressas com orações budistas tremulando ao vento.
Hillary é Sir Edmund Hillary, o primeiro alpinista que escalou o Everest, com Tenzing Norgay, o sherpa que o ajudou, em 1953 —depois ele se tornou figura importante para o desenvolvimento de infraestrutura na região, chamada Khumbu.
Pelo caminho, você verá mais tributos à dupla e a outros heróis do montanhismo, como Pasang Lhamu, a primeira mulher nepalesa que chegou ao cume, nos anos 1990.
Um pouco mais adiante surge uma oportunidade de avistar o Everest. Escondido entre as nuvens e a vegetação, que ainda domina a paisagem nesta altura, não lamente se não conseguir uma boa foto. Outras chances virão.
Depois de um trecho íngreme, o próximo destino é Namche Bazaar, a cerca de 3.400 m de altitude. Os que vieram de avião, desembarcando nos 2.800 m de Lukla, terão de passar duas noites aqui para se aclimatar. Para quem veio por terra, basta uma, porque o corpo já deve estar habituado à altura.
Em Namche, é agradável passear pelas confeitarias com tortas de maçã e lojinhas de artigos para trekking. Se precisar de algo, compre agora, porque essa é a maior vila do trajeto —deixando os souvenirs para a volta, obviamente, para evitar o peso na mochila.
Se não estiver nublado, faça uma caminhada de aclimatação na parte alta para ver Namche por cima com seus telhados verdes e azuis.
E se houver tempo, suba até o vilarejo de Khumjung, de onde se tem uma boa vista para o Everest. Lá, você pode conhecer um pouco do legado deixado por Hillary com a construção de escolas e hospitais para o povo sherpa da região.
Também pode meditar em um monastério que exibe uma vitrine com um pedaço de pele antiga que dizem ser a cabeça do Yeti, suposta relíquia do abominável homem das neves, habitante das montanhas, segundo a lenda.
Nos dias seguintes, as paradas para dormir ou almoçar podem ser feitas em pontos como Tengboche (3.860 m), Pangboche (3.980 m) e Dingboche (4.400 m).
A essa altura, as caminhadas são curtas —não superam muito os 10 km por dia— embora não pareçam, porque a altitude e o frio pioram o cansaço.
A paisagem agora é de pedras, sem vegetação, e rios azuis com gelo nas margens. A visibilidade dos picos nevados oscila com névoa. Na subida aparecem as estupas, que são monumentos budistas, as pedras talhadas com mantras e os cilindros giratórios conhecidos como rodas de oração.
Com frequência é preciso parar e dar espaço às mulas e aos iaques, os bovinos peludos que transportam cargas morro acima, além dos homens e mulheres levando dezenas de quilos nas costas.
Todas as noites repete-se um ritual nos alojamentos: os viajantes se reúnem em torno de uma lareira que usa esterco de iaque como combustível e escolhem um prato para jantar, que pode ser sopa, ovos, arroz com legumes ou as receitas locais de momo e dal bhat. Depois, seguem para os pequenos quartos gelados e se encolhem dentro de um saco de dormir resistente a temperaturas em torno de 20 graus negativos.
Em Dingboche, uma sessão de cinema pode quebrar a rotina. Alguns cafés do vilarejo exibem filmes sobre alpinismo em uma tela de TV gigante, que foi levada de helicóptero, segundo o garçom.
São filmes que os turistas provavelmente já assistiram antes de viajar, como “Rainha do Everest”, da Netflix. Mas você vai gostar de espiar pela janela e reconhecer o cenário das produções enquanto se aquece com um chá de gengibre.
No dia seguinte, a trilha se bifurca. É possível seguir direto de Dingboche para Lobuche —como fazem quase todos os turistas— ou tomar outro rumo, trilhando um circuito conhecido como Three Passes.
Se optar por isso, vai adicionar alguns dias ao trekking. Não subestime a dificuldade desse trajeto e leve grampos para andar no gelo —comprando em Katmandu sai mais barato do que no Brasil.
Quem vai direto para Lobuche encontra um memorial em homenagem a alpinistas mortos, com suas fotos e histórias contadas em placas de metal.
O dia seguinte começa com a vista deslumbrante do Pumori, a caminho de Gorakshep, o ponto de pernoite mais alto da viagem, a 5.160 metros de altitude.
Chegando lá, é bom almoçar e descansar no alojamento, antes de subir o Kala Patthar, para terminar o dia com uma vista do pôr do sol no Everest —se não estiver nublado. Leve lanterna e se agasalhe porque a temperatura cai quando anoitece.
Ainda em Gorakshep, no dia seguinte, os viajantes partem para a trilha do acampamento-base do Everest, ou EBC (Everest Base Camp), como você vai chamá-lo quando estiver íntimo. Não chega a ser o ponto mais bonito da viagem, mas é o mais esperado, pela simbologia do lugar.
É nesse trecho que os turistas podem avistar as barracas amarelas dos alpinistas e fotografar a pedra icônica pichada com a altitude 5.364 m, desfrutando a sensação de dever cumprido.
O turista que faz o trekking não dorme no acampamento dos alpinistas. De lá, volta no mesmo dia para Gorakshep e inicia o trajeto para sair do parque nacional.
O retorno pode ser feito pelas mesmas vilas, mas o visitante pode escolher o outro caminho, se quiser completar o roteiro dos Three Passes e conhecer os passos Cho La Pass e Renjo La Pass, além do belo lago de Gokyo.
Na descida, em poucos dias, você chega novamente a Namche e segue rumo a Phakding. Perto das guaritas de saída do parque, há um quiosque que distribui bolsas com 1 quilo de lixo cada uma. Não tem cheiro e pode-se acoplar à mochila.
A recomendação é que os visitantes levem ao menos uma bolsa para deixar em um ponto de coleta de Lukla. Não é obrigatório, mas é uma forma de ajudar a retirar das montanhas uma parte do lixo produzido na estadia.
A volta para Katmandu pode ser feita de avião por Lukla ou a pé até alguma vila mais próxima de onde partem os jipes e ônibus, como Saleri ou Jiri em poucos dias de caminhada.