Milhares de computadores com Windows apresentaram a temida tela azul que indica falha de sistema ao serem inicializados na madrugada desta sexta-feira (19). A pane generalizada afetou bancos, companhias aéreas, emissoras de TV, supermercados e muitos outros negócios em todo o mundo.
No Brasil, houve atrasos de voos e foram afetados bancos e serviços de saúde, entre outros.
A crise foi causada por causa uma atualização defeituosa em um software da empres de cibersegurança CrowdStrike, que atende a Microsoft, segundo nota da gigante da tecnologia. O erro deixou os PCs e servidores afetados desconectados, o que força as máquinas a um loop de recuperação de sistema, impedindo que as máquinas iniciem corretamente.
O serviço da CrowdStrike é utilizado por mais de 20 mil empresas ao redor do mundo para gerenciar a segurança de computadores e servidores com Windows, e tem ganhado ainda mais espaço com a proibição da empresa russa Kaspersky de atuar nos Estados Unidos, por receio do Casa Branca de espionagem do Kremlim.
Como as versões mais recentes do Windows são adotadas em 95% dos computadores do mundo, outras empresas de nuvem como a Amazon Web Services (AWS) também relataram falhas de serviço.
Em paralelo, a Microsoft também divulgou uma falha no pacote Microsoft 365, que hospeda versões digitais de Word, Excel, PowerBI e Powerpoint. O acesso foi restabelecido.
Depois que a falha foi resolvida, durante o dia, empresas passaram a lidar com acúmulos de voos e consultas médicas atrasados e cancelados, pedidos perdidos e outros problemas que podem levar dias para serem resolvidos. As companhias também enfrentam questões sobre como evitar futuros apagões do tipo.
“Esse evento é um lembrete de quão complexos e interligados são nossos sistemas de computação global e quão vulneráveis eles são”, disse Gil Luria, analista sênior de software da empresa D.A. Davidson.
“A CrowdStrike e a Microsoft terão muito trabalho a fazer para garantir que não permitirão que outros sistemas e produtos causem esse tipo de falha no futuro”, disse ele.
COMO O APAGÃO AFETOU SERVIÇOS NO MUNDO
Viagens aéreas foram imediatamente afetadas pelo problema, pois as companhias aéreas dependem de uma programação que, quando interrompida, fatalmente se transforma em longos atrasos. Dos mais de 110 mil voos comerciais programados para esta sexta-feira, 5.000 foram cancelados em todo o mundo, de acordo com a empresa de análise de aviação Cirium.
Nos Estados Unidos, a falha atingiu as principais companhias aéreas, além de outras transportadoras, empresas de mídia, bancos e firmas de telecomunicações ao redor do mundo.
American Airlines, Delta Airlines, United Airlines e Allegiant Air suspenderam voos.
O maior operador ferroviário do Reino Unido anunciou que foi afetado por problemas informáticos “de grande escala”, que podem causar cancelamentos de última hora.
“Estamos enfrentando problemas informáticos de grande escala em toda a nossa rede”, escreveram as quatro companhias ferroviárias do grupo Govia Thameslink Railway na rede social X.
O aeroporto internacional de Berlim suspendeu seus voos devido a um “problema técnico”, indicou uma porta-voz do aeródromo alemão à AFP.
“Há atrasos no check-in e os voos tiveram que ser cancelados até as 10h”, declarou a porta-voz, que acrescentou que por enquanto não podia precisar quando o tráfego seria retomado.
Na Austrália, empresas de mídia, bancos e telecomunicações sofreram interrupções.
A companhia aérea holandesa KLM anunciou que suspendeu a maior parte de suas operações devido à falha informática global.
“KLM, assim como outras companhias aéreas e aeroportos, também foi afetada pela falha informática global, tornando impossível gerenciar os voos”, indicou a empresa em um comunicado.
Na Suíça, o aeroporto de Zurique, o maior do país, também suspendeu os pousos.
O site colaborativo Downdetector mostrou interrupções em vários bancos e empresas de telecomunicações.
O apagão cibernético também afetou hospitais na Holanda e a Bolsa de Valores de Londres.
A programação do canal britânico Sky News foi interrompida. Na Austrália, o canal nacional ABC anunciou que seus sistemas foram afetados por uma falha “grave”.
A empresa australiana de telecomunicações Telstra indicou que os cortes foram provocados por “problemas globais” que afetaram o software fornecido pela Microsoft e pela empresa de segurança cibernética CrowdStrike.
A falha global “perturba as operações informáticas” de Paris-2024, admitiu o comitê de organização dos Jogos Olímpicos, que serão abertos dentro de uma semana na capital francesa.
“Paris-2024 foi informado de problemas técnicos mundiais que afetam os programas da Microsoft. Esses problemas perturbam as operações informáticas “, disse o comitê em um comunicado.
A dimensão global da falha levou alguns especialistas a destacar o fato de que grande parte do mundo depende de um único fornecedor para serviços tão diversos.
“Precisamos ter consciência de que esse tipo de software pode ser uma causa comum de falha em vários sistemas ao mesmo tempo”, disse o professor de engenharia de software John McDermid, da Universidade de York, na Inglaterra. “Temos que desenvolver infraestruturas resistentes a esses problemas.”
Nos Estados Unidos, até o sistema de pedidos antecipados pelo celular da Starbuck ficou instável na manhã desta sexta, forçando os funcionários a anotar os pedidos à mão. No centro de Boston, os funcionários disseram que as compras pelo aplicativo não estavam gerando as etiquetas que eles usam para preencher os detalhes dos pedidos. Problemas semelhantes estavam ocorrendo em Nova York.
O provedor de serviços em nuvem AWS disse em um comunicado que estava “investigando relatos de problemas de conectividade com instâncias Windows EC2 e Workspaces dentro da AWS.”
Em Wall Street, as ações da CrowdStrike fecharam em queda de 11,10%, e as da Microsoft, de 0,74%.
Com AFP e Reuters