A imagem do nadador Guilherme Costa, o Cachorrão, chorando quase inconsolável na borda da piscina da La Défense Arena, em Nanterre, foi um dos retratos mais dolorosos para o Brasil nos Jogos Olímpicos de Paris.
“Só sei que não quero sentir isso nunca mais”, desabafou o atleta pouco após conquistar a quinta colocação na prova dos 400 m nado livre, com o tempo de 3min42s76. Nem a confirmação do recorde pan-americano o consolou.
No último dia 13, ainda em adaptação ao fuso brasileiro, ele já apresentava um semblante diferente com a conquista do ouro em Florianópolis na disputa do Troféu José Finkel, mas ainda não conseguiu esquecer a frustração recente.
“Em Tóquio-21, fiquei em décimo na eliminatória e fora da final. Depois, vi vencer o nadador que estava na raia oito, que ninguém esperava. Aquilo já me machucou muito. Transformei isso na base deste meu ciclo, lembrava o tempo todo, mas agora foi muito maior. Não estive só perto da medalha, mas do ouro. Carrego essa dor todos os dias agora para Los Angeles”, disse à Folha.
Ao sair da prova, o carioca de 25 anos apontou os 50 metros finais como decisivos para a perda da medalha que parecia certa. Conquistaram lugar no pódio o alemão Lukas Maertens, que levou o ouro com a marca de 3min41s78, o australiano Elijah Winnington, prata com 3min42s21, e o sul-coreano Wooming Kim, bronze com 3min42s50.
Ele conta que não conseguiu sequer assistir a prova completa e aponta novos erros que podem ter comprometido o feito histórico.
“Só consegui ver os meus últimos 100 metros. Claro que foram cruciais os 50 finais, que sempre fechei na casa dos 26 segundos e dessa vez foi com 27. Eu tenho esse gap de vantagem que diminuiu, mas também dei azar pelo fato de os dois adversários ao meu lado estarem a frente, formando marolas. Na virada para o desfecho também saí muito mais forte. Geralmente dou umas quatro braçadas antes de acelerar, fui rápido demais para não perder tempo”, explica.
De fato, ele foi o melhor nos 50 metros finais, com 27s31. Para comparação, o medalhista de ouro teve 28s25.
O nadador da Universidade Santa Cecília (Unisanta) agora seguirá um conselho do técnico Rogério Karfunkelstein: esquecer temporariamente a natação para “zerar a mente”, como diz.
Cachorrão ficará as próximas seis semanas de folga antes de iniciar o novo ciclo olímpico, agora visando 2028.
“Não estou exausto de competições. Se tirasse duas semanas, estaria pronto, mas conversei com o meu técnico e ele disse que preciso de um tempo para voltar. Não é só zerar agora, mas pensar em quatro anos. Ele já montou toda a nossa programação anual e pontos para trabalharmos, mas me impediu de ver. Me pediu para relaxar”, afirma.
Cachorrão viajará acompanhado da namorada para Fernando de Noronha, Manaus, Belo Horizonte e pretende passar um período maior no Rio de Janeiro, onde nasceu. “Vou tirar a cabeça da natação. Viajar, aproveitar a praia. Esquecer um pouco tudo”, resume.
A prova dos 400 m livres já era previamente aguardada como a mais disputada. Do trio que ficou no pódio, todos os atletas têm idade inferior a de Cachorrão: Maertens e Kim, 22, Winnington, 24.
O tempo obtido por Cachorrão asseguraria medalha em todas as Olimpíadas anteriores. Ele ficou fora da prova dos 200 m nado livre e terminou os 800 m em 20º lugar.
“Lógico que dói olhar para outras provas [de outras Olimpíadas] e ver a minha como a mais forte, é um pouco ruim, mas sabia que seria assim. E quis encarar, não corri. Sinto que entreguei tudo”, concluiu.
Dias depois da prova, o nadador ainda deixou a competição de maratona aquática após 1 hora e 16 minutos justificando não ter treinado para competir e que não alcançaria mais o pelotão principal. Ocupava a 22ª colocação.
A natação do país não conquistou medalhas em Paris. A melhor colocação foi alcançada por Ana Marcela Cunha, que terminou a maratona em quarto lugar.