taxa Selic cai 0,25 em divisão do Banco Central
O Banco Central reduziu o ritmo de corte dos juros em uma decisão apertada, na qual os votos de cinco diretores indicados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) prevaleceram sobre as opiniões dos quatro nomeados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A vitória da ala mais conservadora na política monetária, porém, tem data de validade. O presidente do BC, Roberto Campos Neto, e outros dois diretores remanescentes do governo anterior serão substituídos na virada do ano, quando terminam seus mandatos.
A partir de então, indicados por Lula formarão a maioria no Comitê de Política Monetária (Copom), a quem cabe a definição da taxa básica de juros (Selic), referência para o mercado de crédito. Com isso, a expectativa de boa parte do mercado é de que o BC passe a ser mais tolerante com a inflação de 2025 em diante – percepção que foi reforçada pelo placar de 5 a 4 desta quarta-feira (8).
Antes dessa reunião, o Copom havia feito seis cortes consecutivos de 0,5 ponto percentual na Selic, o que levou a taxa de 13,75% para 10,75% ao ano. Desta vez, a redução foi de 0,25 ponto, para 10,5%. Esse movimento era esperado pela maioria do mercado, e alguns economistas já acreditavam em decisão não consensual. Mesmo assim, a perfeita divisão entre “lulistas” e “bolsonaristas” chamou atenção e foi destacada em várias análises.
Em agosto, no início do processo de queda da Selic, a decisão também foi dividida. Cinco diretores do BC votaram por redução de 0,5 ponto e quatro, por 0,25. Na ocasião, o voto de desempate, a favor de um corte maior, foi de Campos Neto.
O presidente do Banco Central também deu o voto decisivo nesta quarta, só que desta vez a favor de um menor afrouxamento. Gabriel Galípolo, o mais cotado para assumir a presidência do BC a partir de 2025, ficou no grupo divergente.
No cargo desde 2019, Campos Neto foi o primeiro a presidir a autoridade monetária desde que ela ganhou autonomia, em 2021. Com a nova legislação, o mandato do presidente do BC deixou de coincidir com o do presidente da República, e Lula não pôde indicar um nome de sua preferência assim que assumiu o governo, em 2023.
Críticos da autonomia do Banco Central, Lula e o PT promovem ataques a Campos Neto desde então, com um ou outro período de trégua. A presidente do partido, deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR) voltou à carga na noite de quarta, afirmando que a redução de 0,25 ponto na Selic foi “sabotagem” e “crime contra o país”.
Como votaram os indicados de Bolsonaro e Lula na definição da taxa Selic
Votaram por redução de 0,25 ponto percentual na Selic os seguintes diretores do Banco Central, todos nomeados por Jair Bolsonaro (PL):
Diretor | Cargo | Mandato |
Roberto Campos Neto | Presidente do BC | Dezembro de 2024 |
Carolina de Assis Barros | Diretora de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta | Dezembro de 2024 |
Otávio Ribeiro Damaso | Diretor de Regulação | Dezembro de 2024 |
Diogo Abry Guillen | Diretor de Política Econômica | Dezembro de 2025 |
Renato Dias de Brito Gomes | Diretor de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução | Dezembro de 2025 |
Votaram por redução de 0,5 ponto percentual na Selic os seguintes diretores do Banco Central, todos nomeados por Luiz Inácio Lula da Silva (PT):
Diretor | Cargo | Mandato |
Ailton de Aquino Santos | Diretor de Fiscalização | Março de 2027 |
Gabriel Muricca Galípolo | Diretor de Política Monetária | Março de 2027 |
Paulo Picchetti | Diretor de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos | Dezembro de 2027 |
Rodrigo Alves Teixeira | Diretor de Administração | Dezembro de 2027 |