Los Angeles será o palco dos próximos Jogos Olímpicos e Paralímpicos. Um lugar que Joaquim Cruz, 61, conhece bem.
Foi lá que o brasileiro de Taguatinga (DF) conquistou a única medalha de ouro para o Brasil nos Jogos de 1984, nos 800 m do atletismo.
Quarenta anos depois, o brasileiro é visto pelo Stade de France, em Paris, com outro uniforme. Desde 2005, Cruz faz parte da equipe de treinadores do time de paratletismo dos Estados Unidos.
“Entrei no paralimpismo em 2005. Fui convidado para viajar com a equipe americana para um campeonato europeu. Depois apareceu uma oportunidade de trabalho em Chula Vista, perto de San Diego, Califórnia. Fiz uma aplicação e aqui estou, há 19 anos”, conta o medalhista que se autodenomina brasileiro-americano, sempre com o sorriso largo no rosto.
Crítico da estrutura esportiva do Brasil, dependente de clubes, principalmente do atletismo, Joaquim muda o tom quando se trata do paralimpismo brasileiro.
“Estive no Centro Paralímpico Brasileiro [em São Paulo], e isso que eles fizeram a gente não tem nos Estados Unidos. Um centro só para paralímpicos se dedicarem 100% aos treinamentos, não temos. Até os americanos ficaram impressionados quando viram. E eu também”, comenta.
O brasileiro elogiou a estrutura completa do CPB, não só no alto rendimento, mas também a escolinha, que forma atletas na base, algo mais difícil no paradesporto. “Por isso que os meninos [atletas paralímpicos] são o orgulho dos brasileiros.”
Em Paris, Joaquim Cruz acompanha o time americano, mas com um olhar especial para três atletas, que saíram do programa que comanda em Chula Vista. “Estou com dois visuais, classe T13, e o Korban Best, que é amputado de braço, mas trabalho também com cadeirantes há dois ciclos. Então de 100 metros a maratona, faço tudo. Só não trabalho com arremesso e saltos”, avisa.
Aos 21 anos, Korben Best ganhou a medalha de prata nos 100 m (categoria T47), chegando apenas sete centésimos atrás do brasileiro Petrúcio Ferreira.
Coração dividido na torcida? “Não, torci para o Korban, meu contato com ele, meu relacionamento com ele, é maior do que o com o Petrúcio”, conta Joaquim, que disse que brincou com Petrúcio depois. “Passei e ele já estava meio arisco. Falei para ele, ‘o garoto está vindo, hein?’”, disse. “Em Los Angeles duvido ele [Petrúcio] chegar na frente do garoto”, completou.
Já experiente, Joaquim Cruz diz que hoje prefere acompanhar os grandes eventos com uma interferência mínima. “Como atleta, eu crescia nas competições importantes. Então achava que seria o mesmo com os meus atletas, porque era quando o processo de treinamento tinha mais ênfase”, lembra. “E eu com minha expectativa… não funcionou.”
“Em Pequim-2008, na primeira Paralimpíada, eu tive uma experiência nova. Percebi que no momento em que o atleta entra na pista, você não tem mais controle nenhum sobre como ele vai se comportar”, conta. Por isso, prefere ficar mais na arquibancada. “O que tinha que fazer já foi feito.”
O brasileiro já está empolgado com o próximo ciclo, que culmina com mais uma Paralimpíada em Los Angeles. “L.A. começou ontem. Começou no ano passado. Já estamos arrancando os cabelos para ver de onde vamos recrutar mais atletas, para ter mais quantidade e tirar mais qualidade”, diz.
Mas ao ser questionado se fariam um centro aos moldes do brasileiro, Cruz descartou. “Duvido, já temos várias pistas, só temos que fazer uma parceria com as universidades e tocar o trabalho, o sistema está lá, só temos que nos aproveitar disso.”