O Brasil ficou para trás – 20/02/2024 – Tostão

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No domingo, o Palmeiras jogou muito bem, poderia ter goleado, mas nos últimos minutos o Corinthians fez dois gols e empatou, graças a uma sequência de lances inacreditáveis, imprevisíveis, que vão além do imponderável. O acaso não é estranho, um mistério. São fatos comuns, frequentes, que fazem parte do futebol, mas que não sabemos quando e onde vão ocorrer.

Após a partida, um repórter perguntou a Abel Ferreira sobre as razões do resultado tão surpreendente. Ele, com ironia e razão, disse que não deu para treinar os últimos minutos do jogo.

Escutei milhares de comentários técnicos, táticos, emocionais sobre os motivos dos dois gols no fim da partida, como se a ciência esportiva soubesse explicar até o inusitado.

Estranho foi também a falha do excelente goleiro Weverton, que tinha condições para defender e tirou o braço, provavelmente para evitar um escanteio no final da partida quando o jogo estava 2×1 para o Palmeiras. Discordo totalmente das opiniões de que Weverton falhou no primeiro gol, assim como Cássio no primeiro gol do Palmeiras. Nem Courtois pegaria as duas bolas.

O jovem Endrick teve uma belíssima atuação, jogando da intermediária para o gol e com um centroavante à sua frente, diferentemente do início de seus jogos na equipe, quando atuava mais adiantado, de costas para o gol entre os zagueiros. Sua incrível velocidade e suas finalizações são notáveis. O fato de Endrick não ser um fantasista, um driblador com efeitos especiais não impede que ele se torne um craque, ainda não é. O talento vai muito além da habilidade.

Apesar de alguns momentos de grosseria, as entrevistas de Abel Ferreira são ótimas, pelas análises técnicas e táticas e também por suas críticas à desorganização, ao calendário e aos péssimos gramados. Abel diminuiu as reclamações agressivas contra os árbitros e auxiliares. Outros treinadores costumam ser agressivos durante as partidas, como Fernando Diniz do Fluminense. Pior ainda, lamentável, foi Mano Menezes ter chamado o jogador Yuri Alberto de burro durante uma partida do Corinthians.

No futebol, sempre existiram treinadores com diferentes comportamentos durante as partidas. O gordo Feola, campeão do mundo em 1958, costumava cochilar durante o jogo. Acordava e gritava: “vamos lá”.

Muitos acham que os treinadores brasileiros, por falta de atualização, são os principais responsáveis pela queda e pelos insucessos das seleções brasileiras. Não é bem assim. Os nossos treinadores são bem preparados, embora não tenham a experiência de trabalhar em grandes equipes da Europa, onde estão todos ou quase todos titulares da seleção. Isso poderá ser um problema para Dorival Junior.

O nosso futebol possui deficiências dentro e fora de campo. As várias e recentes derrotas das seleções brasileiras não são por causa apenas das trapalhadas recentes do presidente da CBF para contratar o novo treinador. Os problemas são mais antigos. Com frequência surgem inúmeros palpites para explicar o declínio da seleção. Cada vez mais tentam demonizar, cancelar Neymar devido suas bobices fora de campo, como se ele fosse um pária. Desprezam seu enorme talento.

Penso que a principal razão da inferioridade atual do futebol brasileiro e sul-americano em relação aos europeus é o atraso de nosso desenvolvimento econômico, social e tecnológico. Eles evoluíram muito mais nas últimas décadas. O progresso econômico gera melhores estruturas de trabalho e de formação de profissionais, em todas as atividades, incluindo o futebol.


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Fonte: Folha

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