Ilha de Páscoa: lições do umbigo do mundo – 11/02/2024 – Ronaldo Lemos

Ilha de Páscoa: lições do umbigo do mundo – 11/02/2024 – Ronaldo Lemos

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Pergunte a qualquer morador da Ilha de Páscoa e ele irá dizer que a vida mudou nos últimos 24 meses. A principal razão é a chegada da conexão de internet por satélites de baixa órbita. Só lembrando, a Ilha de Páscoa é o lugar mais remoto do planeta, ficando a pelo menos 2.000 quilômetros de qualquer outro lugar habitado por mais de 50 pessoas. Hoje ela tem internet de alta qualidade como qualquer outro centro urbano.

Antes disso, assistir a uma série por streaming era impossível. Os filmes e outras produções chegavam por meio de pendrives, trazidos por quem vinha de fora. Eram então copiados avidamente e distribuídos. Na ilha há também um canal local de TV, chamado Mata Ote. O Chile —do qual a ilha é um território— chegou a tentar cassar a concessão do canal em 2022, um absurdo. Mas a população resistiu e o Parlamento chileno apoiou sua continuidade em 2023.

A ilha tem também duas estações de rádio locais: a rádio Rapa Nui e a rádio He Re’O Ote. Hoje, graças à conectividade atual da ilha, ambas poderão ser ouvidas online de qualquer lugar do mundo. A programação tem música tradicional, reggae, notícias e o trabalho de DJs locais que misturam tudo, jovens como Vaimanu ou celebridades locais, como os Lucke Lyons. Tudo muito original.

A história desse lugar fascinante é cheia de lições para o tempo presente. Sua origem remonta a navegadores polinésios que por volta do ano 400 se lançaram ao mar em uma expedição estilo arca de Noé. Navegaram milhares de quilômetros levando variedades de plantas (bananas, batata doce), ratos polinésios, galinhas e cerca de 200 pessoas.

Ao aportarem na ilha foram capazes de criar uma civilização própria, que chegou a ter 16 mil pessoas no auge, cujo nome dado foi Te Pito o Te Henua (o umbigo do mundo). Dentre suas atividades estava a construção dos Moai, estátuas com significado espiritual, político e social.

O uso desordenado dos recursos da pequena ilha levou a um período de decadência e guerra civil. As árvores foram cortadas para agricultura, para fabricação dos Moai e por causa de ataques dos ratos polinésios, que não tinham predador natural na ilha. Quando o primeiro europeu lá aportou na Páscoa de 1722, encontrou a ilha já em estado de decadência, com vários dos Moai derrubados pelas guerras.

A partir daí o povo rapa nui continuou a sofrer provações. Foram escravizados por expedições peruanas e enfrentaram doenças trazidas de fora. Em 1888, a ilha tornou-se parte do território do Chile, em um acordo visto como controverso pelos locais. O país “lavou as mãos” e alugou a ilha para a empresa inglesa Williamsom Balfor, que por mais de 50 anos a utilizou para criar ovelhas, mantendo a população confinada em uma pequena área, trabalhando em troca de comida.

Com a construção do aeroporto em 1965, as mudanças positivas se aceleraram. Os Moais (mais de 900) foram sendo recuperados e a ilha se tornou um dos destinos turísticos mais procurados. Hoje, com cerca de 10 mil habitantes, há um senso de orgulho e merecida estabilidade no ar. Quando os Moais foram erguidos, a ideia era que trouxessem prosperidade. Isso finalmente aconteceu. O que ninguém esperava é que demorasse tanto tempo.

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Já era

Lugares remotos sem conexão à internet

Já é

Ilha de Páscoa conectada, mas ainda com energia gerada por geradores a diesel

Já vem

Olhar com cuidado o que o uso desordenado de recursos naturais pode fazer com a vida humana


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Fonte: Folha

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