Hokkaido: o que conhecer na ilha mais ao norte do Japão – 12/04/2024 – Turismo

Hokkaido: o que conhecer na ilha mais ao norte do Japão – 12/04/2024 – Turismo


Um casal de pássaros de um metro e meio de altura dá as boas-vindas a quem desce no aeroporto de Kushiro, uma cidade portuária ao leste de Hokkaido, a ilha mais ao norte do Japão.

As aves são dois exemplares do grou japonês, um elegante pássaro branco símbolo da imortalidade, embora ele próprio quase tenha sido extinto na região em meados do século 20.

O casal que recebe os visitantes no aeroporto, abrindo suas enormes asas brancas, está empalhado numa vitrine, mas não se preocupe. Em menos de dez minutos de carro, é possível avistá-los passeando livremente por campos de arroz.

Os grous também aparecem em esculturas espalhadas pela região, lembrancinhas mil e até nas tampas de bueiro da cidade. O pássaro era abundante pelo Japão na época dos xoguns, que mantinham alguns como animal de estimação e comiam sua carne em eventos especiais.

“A história de preservação dos grous é um orgulho para os habitantes de Kushiro”, disse o guarda-florestal Hiroshi Yoshida, do Tsurui-Ito Tancho, um dos três santuários da região dedicados ao pássaro. “Eles são importantes para cidade. Não há recursos turísticos além dos grous.”

A melhor época para vê-los é no inverno, entre novembro e março, quando a temperatura gira abaixo do zero grau e pode chegar a -20ºC. É quando a comida fica escassa nas zonas úmidas de Kushiro, e eles passam a frequentar os santuários para se alimentar.

Nos anos 1950, a região criou uma tradição de “alimentação artificial” com grãos de milho, ajudando a aumentar a população de aves e evitando assim sua iminente extinção. Hoje, são cerca de 1.900 grous residentes no Japão, contra cerca de 30 na época.

O Grus japonensis (nome científico) é também conhecido como grou-da-manchúria ou grou-de-coroa-vermelha devido à pele exposta no topo da cabeça. Famosos pelas curiosas danças de acasalamento, eles também simbolizam fidelidade e decoram cerâmicas e pinturas centenárias guardadas em museus pelo país.

Das 15 espécies de grous no mundo, nenhuma habita a América do Sul. O japonês é o segundo grou mais raro do mundo, atrás apenas do grou-americano.

A ideia de alimentar os pássaros veio de Sadajiro Yamazaki, um agricultor que se surpreendeu ao pegar as aves, então raríssimas, bicando os sacos de milho que ele guardava para seu gado. Seus netos continuam com a atividade e lideram o Akan International Crane Center, um dos santuários de Kushiro, a 20 km do aeroporto.

No inverno, centenas de aves descem nos campos cobertos de neve do centro para se alimentar. Há um deque de observação coberto e outro a céu aberto, que recebem 20 mil turistas por ano, especialmente fotógrafos. Um museu simpático, embora um pouco datado, traz cartazes e fotografias desbotadas, incluindo imagens do pioneiro Yamazaki-san.

O número de aves nos santuários tem diminuído com a redução na “alimentação artificial” nos últimos anos. O objetivo é fazer com que os grous dependam menos dos humanos e expandam seu habitat, embora muitas vezes eles acabem “assaltando” estoques das fazendas.

“É também uma forma de evitar grandes aglomerações de aves em tempos de gripe aviária”, disse Yoshida, cujo centro recebeu 250 grous de uma só vez nesta temporada. “Mas eles dependem da nossa comida para passar os invernos congelantes. É um desafio importante para o futuro aumentar seu habitat.”

Ainda que seja difícil ver grous livremente fora do inverno, não é impossível. Alguns pares dão o ar da graça em campos de arroz e milho, por isso é preciso ficar atento ao dirigir pelas estradas da ilha. Os santuários também possuem aves em cativeiros, em grandes jaulas externas, para um programa de reprodução artificial caso um dia seja necessário.

Florestas encantadas

Kushiro, com menos de 200 mil habitantes, é porta de entrada de parques nacionais ao leste de Hokkaido, com florestas encantadas que parecem cenários dos filmes do Studio Ghibli.

Não à toa, o estúdio tem uma lojinha no balneário de Akanko Onsen, bem em frente a uma vila tradicional do povo ainu, indígenas cujas culturas inspiraram personagens das animações. A vila vende artesanatos, como objetos esculpidos em madeira, principalmente de ursos e corujas, deuses dos Ainu.

Esta região à beira do lago Akan, parte do Parque Nacional Akan-Mashu, possui hotéis e restaurantes, além do Museu Akankohan. Dali saem trilhas que levam até a praia do lago e a pequenas piscinas de lama borbulhantes. A atividade vulcânica aquece os onsens (spas) dos hotéis e os banhos de pé públicos espalhados pelo balneário.

A melhor trilha, no entanto, fica do outro lado do parque, com um caminho coberto de almíscar, samambaias e musgos, saindo do Kawayu Eco Museum Center. A floresta fechada termina num campo aberto árido aos pés de um vulcão em atividade, o Monte Io. É um cenário quase idílico, não fosse o cheiro de gases sulfurosos, pontuado por inúmeras fumarolas amarelas que emitem constantes nuvens brancas.

A trilha leva uns 60 minutos a pé (ida e volta), embora seja possível ir de carro e estacionar bem perto da montanha, ao lado dos ônibus de turismo, num centro com restaurante e lojinha.

Sem muita opção de hospedagem por aqui, o hotel Art Inn é uma atração por si só. Com apenas três quartos, cada um tem seu onsen particular. Cada espaço foi trabalhado por um artista, e o hotel promove em janeiro e fevereiro o Extreme Cold Art Festival (festival de arte frio extremo), algo propício para uma região que chega a -30ºC.

Sapporo

Sapporo, a capital de Hokkaido, fica a 300 km de Kushiro, com voos frequentes de 45 minutos entre as duas cidades. O aeroporto mais próximo de Sapporo, em Chitose, é gigantesco, com cinema, onsen e parques de diversão dedicados a Hello Kitty e Doraemon.

Para muitos adultos, Sapporo é sinônimo de cerveja e vale visitar o complexo da empresa. A bebida começou a ser fabricada na cidade em 1876, como uma iniciativa do governo local que trouxe um mestre cervejeiro japonês treinado na Alemanha.

Em outubro do ano passado, deu para visitar o museu (tour gratuito) e fazer a degustação (três cervejas em copos de 250ml por cerca de R$ 33) sem comprar ingresso online, que estava esgotado. Parece que no verão a história é outra e é melhor não arriscar. Também não deixe de tomar a Sapporo Classic, distribuída apenas em Hokkaido e fabricada com ingredientes locais.

O espaço de degustação não serve comida, mas há três restaurantes no complexo especializados em churrasco e muita carne de cordeiro. O museu é todo em japonês com alguma tradução em inglês, com destaque para uma coleção maravilhosa de cartazes publicitários, muitos estrelados por gueixas brindando com garrafas de Sapporo.

Com quase 2 milhões de habitantes, a capital de Hokkaido lembra uma versão charmosa e diminuta de Tóquio. Saem as multidões e o ritmo frenético, fica aquele clima urbano com pequenas surpresas a serem descobertas.

Uma delas foi o Milk Mura, uma sorveteria alcoólica escondida no sexto andar de um prédio comercial. A decoração é kitsch parisiense, e quem atende é a dona do local, uma japonesa que inventou um ritual para tomar sorvete com caldas de bebidas variadas (licor de matcha, rum, absinto, etc). É preciso usar uma microcolherzinha para servir gotinhas de álcool em cada colherada de sorvete. Ela explica tudo com paciência, e no final é só dizer “kanpai!”.



Fonte: Folha

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